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Sou o eu-lírico oculto na sombra fria da palavra mais bonita.

sábado, 27 de março de 2010

Conto do meu Jardim de Morte - Petalum

 Naquela noite, agachado sobre a pedra que um dia será minha lápide, eu quase pude ouvir o frio do vento.
 Lá estávamos eu e o que julguei ser a minha sombra, no jardim. Haviam pétalas espalhadas pelo chão e tudo o que restara foram espinhos. Alguém as recolhia todas - uma pétala desbotada para cada lágrima minha não derramada.
"Eram tantas rosas...
todas regadas com o meu pranto.
Estão todas mortas
pelo perfume de um lírio branco."

01h 05min - Adolfo J. de Lima

Solitarius

 A paixão é passageira. Nós somos todos passageiros. Mas sempre há a possibilidade de deixarmos algum rastro.
 Caminhando sempre sozinho, todos aqueles rostos a cruzar o meu caminho me eram tão familiares... Até que num dia desses qualquer, ao me encontrar comigo mesmo, lúcido, chamaram-me de insano. Foi quando percebi que nenhum deles eu conhecia de fato.
 A paixão é passageira. Nós somos todos passageiros. Sempre há uma hora em que queremos sumir sem deixar rastros.

-Adolfo J. de Lima

domingo, 21 de março de 2010

Um punhado de tédio...

 Não sei o que você pensa a respeito, mas tudo isso me é um tanto pertubador!
 Quem me dera ter o luxo de sentir preguiça! Não ter que escutar a mim mesmo se queixar por não arranjar o que fazer. Quem me dera sentir preguiça... Ter que agradecer apenas a mim mesmo enquanto olho pro vazio... Agradecer ou balbuciar coisas sem sentido apenas ao meu vazio...
 Seria bom uma vez ou duas ter alguém comigo enquanto vejo o tempo passar. Me cansei de admirar a morte de insetos sozinho no canto do meu quarto.
 Ah! sim, o meu quarto... Cubículo de atmosfera sufocante no qual eu não vejo o tempo se arrastar. Vejo ele ser tecido e distorcido nos fios de uma aranha minúscula.

-Adolfo J. de Lima

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quinta-feira, 18 de março de 2010

Conto - Abyssus

 Ela sempre teve os olhos estranhamente escuros. Talvez fossem azuis... ou cinzas... não sei dizer. Sei apenas de uma vez na qual em seu olhos eu vi os meus, enevoados.
 Delicadamente, feito faz o vento, ela sibilava algo em meu ouvido...
"Foi apenas você quem eu
quis comigo desde o princípio.
Atire-se nos meus braços
-feito se faz num precipício".

-Adolfo J. de Lima

terça-feira, 16 de março de 2010

Conto - Jardim de Morte

 No céu a lua levava consigo um brilho que lhe fazia parecer doentia. Eu estava a sós comigo mesmo no jardim, contemplando-o. Havia um vulto a se mover ali na penumbra mas ludibriado pelo perfume da rosas não lhe dei merecida atenção. Apunhalaram-me duas vezes nas costas então.
 Depois de cair sobre aquela terra fofa e escura, me lembro apenas da voz um tanto afetuosa que me fez uma ultima confidência:
"Eu não quero ter que ouvir os outros,
ter que engolir seus comentários vis.
Eu tinha que fazer contra você
o abominável ato que te fiz".

-Adolfo J. de Lima

Veritas

Quando finalmente perceberam que eu não escondo ou mostro minha face, seja ela qual for, chamaram-me de estranho. Confudiram-me, só eles sabem com o que, quando sincero me virei pelos própios do avesso.
E eles se encolhem todos diante de meu silêncio, me temem por olha-los através de sua carne, nos olhos... Por rasga-los, rasgar as suas mentiras e mastiga-las cruas até o ressumar da íntima verdade.

-Adolfo J. de Lima

quinta-feira, 11 de março de 2010

Estado de um sujeito que considera a realidade unicamente pelos seus estados de consciência

Minhas palavras são o eco de tua egoísta subjetividade. A mágoa herdeira de toda a raiva que pode vir a surgir com o início de uma falsa amizade. Subjetividade a sua que em raiva convertida verte por entre os meus cerrados dentes.
Quem me dera não ter só amado, mas ter também me apaixonado. Ter sido tão cruel comigo mesmo. Mas não foi possível por causa de nosso eterno egoísmo, porque a criatura mais difícil de se matar é a si mesmo. Porque eu não me via capaz de se sacrificar por alguém. Capaz de furar as mãos por uma rosa...
Porque não quero deixar gotejar o que me é mais rubro sobre desbotadas pétalas, ver o que sinto sangrar e secar por sobre a terra.

-Adolfo J. de Lima

Lilás

Fim de tarde. Pela janela da área de serviço eu admirava o crepúsculo. Sozinho
Lilás, a cor do céu. Eu tentava contar todas as cores e suas tonalidades que eu havia encontrado nas nuvens. Dar nome a todas as formas.
Eu pensava somente em ti. Entre duas nuvens havia um espaço que - por incrível que pareça - tinha forma idêntica a de um coração.
Sem que eu percebesse ele se desmanchou. Desde então fico a olhar pro céu, pras nuvens. Me pergunto se não te perdi pra sempre.
Mas tudo isso foi há um bom tempo atrás...

-Adolfo J. de Lima

Folga

Se as mães tiram férias, meu bem querer? Sim, elas tiram... Posso dizer que elas tiram...
Elas não o fazem somente quando se recusam a criar os filhos, mas também quando eles deixam de se sentirem amados.
Sim elas tiram férias. Férias permanentes.

-Adolfo J. de Lima